Bate papo com Nairobi


Continuando nossa série de BatePapo com mc's pioneiros em CWB, hoje conversamos com Nairobi aka mc Numero Pi. Nesta troca de palavras conversamos sobre flow, o que mudou em uma década de rap, o seus futuros trabalhos! Confira logo abaixo.

Que os Deuses nos vejam (Prod. Cabes)



Dalhe Nairobi. Como foi que você começou a fazer rap?

Comecei a ouvir rap compulsivamente em 93 com nove pra 10 anos de idade. Em 96 com 12 eu fiz minha primeira letra no caderno (sem base, sem refrão, só o discurso tradicional do rap na época). Passaram-se dois anos pra que eu pudesse tentar (e conseguir) entrar numa balada de rap com 14 de idade em 98 (No Circus, show do Cambio Negro). A partir dessa época entrei em contato com pessoas do rap curitibano como DJ Primo DJ Ploc, Davi Black, Mazinho e o pessoal da Garagem CDs.

Por estar sempre la na Garagem (pico onde o rap de Curitiba se encontrava) comecei a ver que era possível fazer rap ou ter um grupo por exemplo. Numa sessão de autógrafos do Pavilhão 9 em 99 conheci através de um amigo em comum meus primeiros parceiros de microphone, o Clayton e o Gilney com quem eu formei o grupo P.A.S (Periferia Anti Sistema).

Nossa primeira apresentação foi no dia 11 de julho de 1999 no 66 (pico clássico do rap curitibano na época) e muita gente já estabelecida no meio como o Aranha, Maskot, DJ Primo, Vagabumbill, Jhonatan o Gralha e os caras do Comunidade Racional gostaram bastante do que a gente tava fazendo. A partir dai fui ganhando confiança em fazer o que faço ate hoje. 

Você é um dos pioneiros da cena. Depois de 10 anos qual foi à maior mudança que você viu acontecer no hiphop de cwb?

Em 12 anos, com certeza a maior mudança é inegavelmente a vinda massiva de um publico que antes não existia na nossa cultura. Tudo isso se deu com o tempo pelos pais inteiro, e Cwb não ficou de fora disso sendo o pólo de rap que é.

Antigamente fazíamos festas de rap "underground" para 150 pessoas (sendo que 100 delas com certeza eram atuantes dentro do rap na época). Fomos evoluindo aos poucos para eventos com 400, 500 cabeças. Hoje temos festivais que já chegaram a receber 5 mil pessoas, porém não sei se estas 5 mil fazem idéia do que seja a cultura hip hop de verdade, pois esta tudo se massificando muito rapidamente nos últimos 3 anos.

As coisas cresceram por aqui muito rápido e eu acho que uma boa parte deste publico só  esta de passagem pela nossa cultura, porem respeito cada um dos que estão prestigiando o hip hop aqui em cwb no atual momento.

Você é um dos mcs mais diversificado em matéria de flow em CWB. Pra VOCÊ o que é ter flow? 

Ter flow é ter personalidade, saca? E não se ater a uma fórmula segura ou que seja mais bem aceita por alguém. Procuro diversificar minhas levadas o máximo possível pra que realmente eu consiga ter musicas diversas entre si, pra que meu trampo não fique monocromático  (com uma cor só).

Faço flows sossegados, extremamente agressivos, lentos e cadenciados ou rápidos e certeiros. Acho que todo emcee que se preze tinha que trabalhar nisso pra não ficar com aquele andamento quadrado de sempre nos seus raps.

E outra -  não basta só ter flow, rima etc.  Fazer um flow foda rimando qualquer coisa com qualquer coisa só pela questão do flow pra mim não e valido. O necessário e juntar o flow com a mensagem pra ter o efeito desejado e muitas vezes isso não e tão fácil  assim. 

Seu ultimo single com o Laudz ficou um clássico som de  pista. Como surgiu essa vontade de gravar um som em um ritmo mais dançante? 

Sempre gostei bastante de alguns sons mais pop que volta e meia apareciam por ai nas pistas, porem não me sentia bem em fazer algo do tipo. Sempre fui muito apegado ao boom-bap tradicional dos anos 90, porem sempre tive um grande fascínio pelos raps mais acessíveis de hoje em dia (anos 2000).

Depois de ter fechado o disco De Volta Aos Anos 90 vi que todos os produtores e beatmakers do país e daqui só me mandavam beats e sugestões relacionados com a estética da golden era e isso foi me deixando de certa forma limitado, dentro de uma caixinha, saca?

Apos longos períodos enchendo o saco de todo mundo (porque eu queria coisas mais atuais e pertinentes pros dias de hoje) consegui entrar numa sintonia forte com o Nave e o Laudz que são os caras que mais se identificam com essa pegada pop do rap. Depois de 12 anos de laboratório, e de passar por mil fases estéticas no rap (rap periferia, rap underground, rap anos 90) consegui me sentir bem pra fazer um som com elementos pop onde eu não estaria forçando nenhuma barra comigo mesmo como emcee e pessoa e nem com o publico que já me conhece.

Disso saiu o primeiro single do nosso projeto


No release do single você diz que está preparando um novo trabalho. Conte-nos um pouco mais sobre isso?

Este trampo (que seria um e.p., mas já esta virando mixtape),  tem vários sons nesta pegada (mais pista) e também vários sons mais pesados que remetem ao "Répao" que todo mundo chapa na rua e espera de mim.

O projeto originalmente seria só com o Nave e o Laudo, porem tem muita gente que eu quero trampar junto e não vou deixá-los de fora dessa. Ja compus cerca de 15 sons, porem pretendo fazer de 30 a 40 pra escolher os mais certeiros pra essa investida.

Vocês vão poder ouvir desde um dirty south de tremer caminhão ate um rap boom-bap totalmente rua e purista, passando por sons bem sossegados e descompromissados ate letras políticas e sociais ou pessoais e reflexivas.

Como emcee tenho que ser completo e verdadeiro. Por isso que tenho musicas como pique pilaco e musicas como questões, saca? São 2 facetas reais da minha pessoa e neste projeto teremos muitas pegadas, idéias , flows e batidas extremamente distintas entre si .

Você tem um disco praticamente finalizado (De volta pros anos 90). Quando vai soltar as pedradas desse disco para o pessoal ouvir?

Este disco foi produzido exclusivamente pelo monstro dos beats de cwb Spektrum e foi gravado em nove dias no mês de abril de 2008. Na época fizemos 52 guias-teste e acabamos ficando com 18 delas pro disco. Vou lançá-lo em 2012 na seqüência  desta mixtape (ainda sem nome) .

O disco é uma declaração de amor as ruas e ao bom rap feito principalmente de 93/94 até 98/99, era em que me apaixonei de verdade pelo hip hop.

De volta aos anos 90 (Prod. Spektrum)


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